O Conselho Regional de Medicina Veterinária de Minas (CRMV-MG), por meio da Comissão de Saúde Única e Medicina Veterinária do Coletivo, divulga Comunicado de Risco tendo em vista a a ocorrencia de mais caso de raiva animal identificado em Belo Horizonte (MG), no dia 06 de maio de 2022.

 

 

COMUNICADO DE RISCO | 06 DE MAIO DE 2022

 

Descrição do evento

 

Em 2021 foram identificados 24 morcegos e um felino positivos para raiva em Belo Horizonte. No município de Contagem foram dois morcegos positivos.

 

Em 2022, no município de Belo Horizonte, são cinco morcegos positivos até este momento e esta semana, foi identificado um cão positivo, fruto da vigilância e do manejo de populações de cães e gatos no município.

 

Os dados demonstram a circulação do vírus da raiva nestes municípios e a grande possibilidade de ocorrer também em outras áreas. Os vírus até então identificados são da variante 3, que circulam normalmente no ciclo aéreo da raiva, ou seja, envolvem os morcegos e acidentalmente, outros animais, como possivelmente, ocorreu com o gato diagnosticado em 2021 e o cão positivo identificado esta semana.

 

Descrição geral

A raiva é uma zoonose praticamente 100% letal a partir da instalação da doença, ou seja, do aparecimento de sinais e sintomas em homens e animais. Sua ocorrência é evitável, se as medidas preventivas previstas forem tomadas a partir do contato com o vírus. É transmitida ao ser humano ou entre os animais pela inoculação do vírus rábico presente na saliva e nas secreções de animais infectados, principalmente pela mordedura, mas também por arranhaduras e lambedura de mucosas. Em cães e gatos, o período de incubação (que vai desde o contato com o vírus até o aparecimento dos sinais de raiva) pode ser muito longo, de até 180 dias.

 

Além disso, a variante 3 do vírus rábico tem causado padrão de adoecimento diferente do observado há mais de 30 anos na região, quando havia circulação de variante que causava a raiva furiosa. Os sinais observados no gato e no cão positivos em 2021 e 2022 em Belo Horizonte estão mais associados à ocorrência da raiva paralítica, causada pela variante 3 que circula em morcegos. Nestes casos, a raiva se manifesta de forma leve ou sem fase de excitação e sem manifestação de agressividade, com sinais de paralisia que evoluem para a morte devido ao comprometimento respiratório.

 

O gato positivo em Belo Horizonte apresentou sinais de paralisia e salivação (devido à dificuldade de engolir decorrente da paralisia progressiva). O cão apresentou edema de face, duas crises convulsivas rápidas e vociferação, antes de ser encontrado morto no canil.

 

Estas informações alertam quanto à importância e o desafio de se suspeitar de raiva em cães e gatos, no contexto atual. Para animais suspeitos de doenças com manifestação neurológicas, como a cinomose, deve-se incluir a raiva no diagnóstico diferencial. Animais com alteração de comportamento como prostação, apatia, acompanhados de alterações de marcha (claudicação), perda de movimentos, sialorréia devem ser manipulados com o devido cuidado. Este fato é particulamente importante para os médicos veterinários e profissionais que trabalham em clínicas veterinárias, Unidades de Vigilância de Zoonoses, canis e congêneres, onde o uso de luvas, máscaras e óculos de protecção devem ter a necessidade avaliada frente aos casos suspeitos, assim como o isolamento do animal.

 

Nos cães e gatos, a eliminação de vírus pela saliva ocorre de dois a cinco dias antes do aparecimento dos sinais clínicos e persiste por toda a evolução da doença. A morte do animal por raiva acontece, em média, entre cinco e sete dias após a apresentação dos sintomas. Por este motivo, a observação do animal deve ser realizada durante os dez dias posteriores à agressão. Ainda não se sabe sobre este período de transmissibilidade de animais silvestres. Os morcegos podem hospedar o vírus por longo período sem sinais da doença. Nos morcegos pode ocorrer uma fase de excitabilidade seguida de paralisia, principalmente das asas, o que faz com que esses animais deixem de voar. Deve-se suspeitar, portanto, de morcegos (hematófagos ou não) encontrados em locais e horas não habituais (são animais de hábitos noturnos) e que não sejam capazes de se desviar de obstáculos interpostos à sua trajetória.

 

Salienta-se que os morcegos, animais importantes na natureza,  também são vítimas da doença.

 

Prevenção

A prevenção da raiva é fundamental, visto que a doença é quase 100% fatal. É realizada mediante a vacinação anual em cães e gatos de áreas urbanas e também de animais domésticos de áreas rurais. A vacina da raiva é segura e deve ser realizada em cães e gatos por toda a vida, desde os três meses de idade.

 

Em caso de exposição humana, deve-se conter o animal agressor (cão e gato) para observação e lavar repetidamente com água corrente e sabão, o local da agressão para reduzir a carga de vírus. Procurar, imediatamente após a limpeza da ferida, a unidade de saúde (UBS ou UPA) mais próxima e informar o ocorrido, com o máximo de dados possíveis sobre as condições do acidente e sobre o animal, para realização da profilaxia antirrábica. Em caso de animal silvestre (morcegos, por exemplo), não tocar no animal, isolar com uma caixa ou balde e acionar a Unidade ou Centro de Controle de Zoonoses para captura e envio ao laboratório (LACEN) para diagnóstico Em Belo Horizonte e Contagem pode-se acionar os serviços de Controle de Zoonoses para recolhimento do morcego.

 

Médicos veterinários, estudantes de medicina veterinária, trabalhadores de clínicas veterinárias que estão permanentemente expostos a animais potencialmente transmissores da raiva devem realizar a profilaxia antirrábica pré exposição, que consiste em vacinação e posterior de titulação do nível de anticorpos.

 

 

Belo Horizonte, 10 de maio de 2022

Comissão de Saúde Única e Medicina Veterinária do Coletivo do CRMV-MG

Conselho Regional de Medicina Veterinária de Minas Gerais

 

 

Fonte: Nota 8/2022- CGZV/DEIDY/SVS-MS de 10/03/2022; Guia de Vigilância em Saúde – 5ª edição – Ministério da Saúde, 2021; Comunicado de risco DSEI MGES/SESAI/MS nº11/2022 SES/MG; Nota informativa DIZO/SUPVISA/SMSA Belo Horizonte, 2021 e Manual de Diagnóstico Laboratorial da Raiva-Ministério da Saúde, 2008.